O Bom Samaritano



Ele acorda cedo.
Vai pro chuveiro.
Faz bem a barba.
Se seca bem com a toalha.
Toma seu COFE.
E antes de sair,
ainda ri para o porteiro.

Chega no trabalho,
arruma seu armário.
E mata cinco.
Só três afogados no aquário.

Na hora do almoço,
posa de bom moço.
Mas come a garçonete dentro do banheiro sem tirar a mão do bolso.

De volta ao escritório liga para a esposa...
“Te amo môzinho.. minha tchutchuquinha”
Ela acredita piamente que está bem casada.
Afinal é um famoso advogado.
Engomado.
Terno ultra bem passado.
De família nobre.
Mora bem.

Ao sair do trabalho, ele passa o carro por cima de um mendigo
que ali estava sentado.
Ele é um homem pontual.
Jamais iria atrasar, 
para um mendigo salvar.

Pelo seu rádio ele manda matar uma velhinha que atrasou, 
e o aluguel não pagou.

Mas de volta ao seu bairro, 
ele sorri ao adentrar na portaria do seu prédio.
Cumprimenta o zelador e ainda lhe dá remédio.
Todos o amam no seu prédio.
Afinal ele tem um carrão.
E o apartamento é próprio.
Talvez ele seja agora o síndico.
E, claro, ele usa terno escuro,
bem passado e sapato lustrado.
O psicopata engomado.
O psicopata engomado,
mal amado.
Mas pelo Estado respeitado.
Aclamado.
No fundo não passa de mais um suicidado.
Coitado.
                     
                     Rodrigo Jorge Bucker – Niterói 2013